segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Série BICO: como a odontologia se posiciona: usar ou não - dentista


 Por: Dra. Janaina Gomes* 
O instinto de sucção ocorre de forma bastante intensa nos primeiros três meses de vida e tende a diminuir gradativamente a partir do sexto mês. Há basicamente dois tipos de sucção, uma com finalidade nutritiva e outra não nutritiva. A nutritiva fornece nutrientes essenciais para o crescimento, e a não nutritiva propicia uma sensação agradável de bem-estar e segurança. A sucção acontece muitas vezes para aliviar a tensão labial dos bebês, no entanto se essa necessidade não for aliviada durante a amamentação materna regular, o bebê pode desenvolver hábitos, como o de chupar o dedo e/ou bicos, mesmo depois de alimentados.
http://bebeatual.com/bebes-latex-ou-silicone_76
A inclusão dos bicos no enxoval do bebê é um costume fortemente arraigado em nossa sociedade. Ela geralmente é introduzida precocemente na vida da criança, oferecida desde a sua primeira semana de vida. Portanto, fica evidente a relação simbólica estabelecida entre a chupeta e a imagem do bebê, e entre a chupeta e a antecipação do conforto e tranqüilidade para mãe e filho.
Desta forma, existe a necessidade crescente de orientação multiprofissional e interdisciplinar das mães/gestantes quanto ao tipo adequado de chupeta e o momento apropriado de iniciar e descontinuar este hábito.
http://www.corposaun.com/uso-de-chupetas-por-bebes-brasileiros-reduz-em-nove-anos/1112/
Vários estudos têm evidenciado que a utilização dos bicos de forma não racional contribui para o desmame precoce, pois o bebê ao sugar na mama, adota um padrão de sucção diferente do padrão assumido com os bicos artificiais. Surge então o que se chama “confusão de bicos”, definida como a dificuldade de um lactante em conseguir um padrão de sucção correto para amamentar-se com êxito, após ter sido alimentado com mamadeira ou ter sido exposto a um bico artificial. Em alguns bebês, uma mamadeira recebida pode ser suficiente para confundi-los, enquanto que, para outros, várias mamadeiras serão necessárias para causar essa confusão. Não são bem conhecidos os mecanismos de como isto acontece com algumas crianças e com outras não.
A confusão de bicos acontece mais quando a amamentação não está bem estabelecida, principalmente nos primeiros dias de vida do recém-nascido. Procurando alternativas para impedir a ocorrência da confusão de bicos deve ser evitado o uso de bicos e mamadeiras até que o bebê esteja mamando com desenvoltura e segurança.
A recomendação do uso de bicos é um tema controverso em Odontologia. Vários estudos o retratam como o principal responsável por desequilíbrios na oclusão e nas funções da musculatura peribucal, como por exemplo, alterações na deglutição e posição de repouso da lingua, que podem culminar em problemas futuros na articulação temporo mandibular (ATM). Outros autores relatam que este tipo de sucção não-nutritiva prepara toda a musculatura bucal, notadamente a língua, os lábios e a mandíbula para a mastigação de alimentos mais consistentes.
O quanto estes hábitos irão afetar a criança dependerão de alguns fatores, tais como duração e freqüência de uso do bico, intensidade com que o mesmo é sugado, posição do bico na boca, idade de término do hábito, padrão de crescimento da criança e grau de tonicidade da musculatura peribucal.
O bico passa a ser um problema quando continua sendo usada depois dos três anos. Ele deve ser retirada gradualmente no período entre os dois e três anos de idade, a fim de se evitar interferências importantes nas estruturais bucais. A permanência pode desenvolver deformações ósseas e oclusais que levarão a criança à necessidade de tratamento ortodôntico.
http://osclubinhos.blogspot.com.br/
Quanto ao tipo de bico a ser empregado, recomenda-se o ortodôntico, porque possui formato mais próximo à forma do seio materno, fundamentado na semelhança do esforço muscular que produz quando comparado à amamentação natural. Seu formato anatômico se adapta ao palato e ajusta-se bem à língua, acompanhando o movimento de sucção.
A família deve ser orientada a não passar açúcar ou mel na chupeta. Esse procedimento pode desenvolver na criança uma associação de bem-estar apenas na presença de alimentos e bebidas doces, que podem ocasionar o surgimento precoce da obesidade e da cárie dental. 
Embora haja divergências entre profissionais sobre os efeitos do uso do bico, há um consenso na comunidade científica de que o uso de maneira racional não produz alterações indesejáveis significativas na oclusão e no desenvolvimento das estruturas ósseas relacionadas à cavidade bucal das crianças. A maneira racional esta relacionada ao uso limitado do bico, apenas para satisfazer a necessidade de sucção não nutritiva, evitando a permanecia do ato por longos períodos. Desta forma, a criança não ficará tão apegada ao habito de sucção não nutritiva, o que torna mais fácil sua remoção no momento apropriado.
Na verdade, o bico por se só não é o vilão, mas a desinformação sobre a forma correta de usá-lo, o momento oportuno de introduzi-lo e de removê-lo da vida da criança, é que o torna uma ameaça. A mãe que tem estas informações saberá usufruir o melhor que a sucção não nutritiva pode proporcionar ao seu bebê.

*Dra. Janaina Gomes: Cirurgiã-dentista, especialista em Odontopediatria, mestre e doutora em Ortodontia. 
Consultório: Avenida Minas Gerais, n°883 sala 7- Centro - Governador Valadares/MG - 32778575

Nenhum comentário:

Postar um comentário