O instinto de sucção ocorre de forma bastante
intensa nos primeiros três meses de vida e tende a diminuir gradativamente a
partir do sexto mês. Há basicamente dois tipos de sucção, uma com
finalidade nutritiva e outra não nutritiva. A nutritiva fornece nutrientes
essenciais para o crescimento, e a não nutritiva propicia uma sensação
agradável de bem-estar e segurança. A
sucção acontece muitas vezes para aliviar a tensão labial dos bebês, no entanto
se essa necessidade não for aliviada durante a amamentação materna regular, o
bebê pode desenvolver hábitos, como o de chupar o dedo e/ou bicos, mesmo depois
de alimentados.
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A
inclusão dos bicos no enxoval do bebê é um costume fortemente arraigado em
nossa sociedade. Ela geralmente é introduzida precocemente na vida da criança,
oferecida desde a sua primeira semana de vida. Portanto, fica evidente a
relação simbólica estabelecida entre a chupeta e a imagem do bebê, e entre a
chupeta e a antecipação do conforto e tranqüilidade para mãe e filho.
Desta forma, existe a necessidade
crescente de orientação multiprofissional e interdisciplinar das mães/gestantes
quanto ao tipo adequado de chupeta e o momento apropriado de iniciar e
descontinuar este hábito.
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Vários estudos têm evidenciado
que a utilização dos bicos de forma não racional contribui para o desmame
precoce, pois o bebê ao sugar na
mama, adota um padrão de sucção diferente do padrão assumido com os bicos
artificiais. Surge então o que se chama “confusão de bicos”, definida como a
dificuldade de um lactante em conseguir um padrão de sucção correto para
amamentar-se com êxito, após ter sido alimentado com mamadeira ou ter sido
exposto a um bico artificial. Em alguns bebês, uma mamadeira recebida pode ser
suficiente para confundi-los, enquanto que, para outros, várias mamadeiras
serão necessárias para causar essa confusão. Não são bem conhecidos os
mecanismos de como isto acontece com algumas crianças e com outras não.
A
confusão de bicos acontece mais quando a amamentação não está bem estabelecida,
principalmente nos primeiros dias de vida do recém-nascido. Procurando
alternativas para impedir a ocorrência da confusão de bicos deve ser evitado o
uso de bicos e mamadeiras até que o bebê esteja mamando com desenvoltura e
segurança.
A
recomendação do uso de bicos é um tema controverso em Odontologia. Vários estudos
o retratam como o principal responsável por desequilíbrios na oclusão e nas funções
da musculatura peribucal, como por exemplo, alterações na deglutição e posição
de repouso da lingua, que podem culminar em problemas futuros na articulação
temporo mandibular (ATM). Outros autores relatam que este tipo de sucção
não-nutritiva prepara toda a musculatura bucal, notadamente a língua, os lábios
e a mandíbula para a mastigação de alimentos mais consistentes.
O
quanto estes hábitos irão afetar a criança dependerão de alguns fatores, tais como duração e
freqüência de uso do bico, intensidade com que o mesmo é sugado, posição do bico
na boca, idade de término do hábito, padrão de crescimento da criança e grau de
tonicidade da musculatura peribucal.
O bico
passa a ser um problema quando continua sendo usada depois dos três anos. Ele deve ser retirada gradualmente no período
entre os dois e três anos de idade, a fim de se evitar interferências importantes
nas estruturais bucais. A permanência pode desenvolver deformações ósseas e
oclusais que levarão a criança à necessidade de tratamento ortodôntico.
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Quanto ao
tipo de bico a ser empregado, recomenda-se o ortodôntico, porque possui formato
mais próximo à forma do seio materno, fundamentado na semelhança do esforço
muscular que produz quando comparado à amamentação natural. Seu formato anatômico
se adapta ao palato e ajusta-se bem à língua, acompanhando o movimento de
sucção.
A família deve ser orientada a não passar açúcar
ou mel na chupeta. Esse procedimento pode desenvolver na criança uma associação
de bem-estar apenas na presença de alimentos e bebidas doces, que podem
ocasionar o surgimento precoce da obesidade e da cárie dental.
Embora haja divergências entre
profissionais sobre os efeitos do uso do bico, há um consenso na comunidade
científica de que o uso de maneira racional não produz alterações indesejáveis
significativas na oclusão e no desenvolvimento das estruturas ósseas
relacionadas à cavidade bucal das crianças. A maneira racional esta relacionada
ao uso limitado do bico, apenas para satisfazer a necessidade de sucção não
nutritiva, evitando a permanecia do ato por longos períodos. Desta forma, a
criança não ficará tão apegada ao habito de sucção não nutritiva, o que torna mais
fácil sua remoção no momento apropriado.
Na verdade, o bico por se só
não é o vilão, mas a desinformação sobre a forma correta de usá-lo, o momento
oportuno de introduzi-lo e de removê-lo da vida da criança, é que o torna uma
ameaça. A mãe que tem estas informações saberá usufruir o melhor que a sucção
não nutritiva pode proporcionar ao seu bebê.
*Dra. Janaina Gomes: Cirurgiã-dentista, especialista em
Odontopediatria, mestre e doutora em Ortodontia.
Consultório: Avenida Minas Gerais, n°883 sala 7- Centro - Governador Valadares/MG - 32778575